O Ano em que conheci o Potó !

O Ano em que Conheci o Potó !


Por Nello Morlotti


Este ano, caro leitor, eu conheci o potó. Não foi uma dessas apresentações cerimoniosas, com aperto de mãos e troca de cartões. Foi um encontro mais visceral. Literalmente.


Imagine você, desavisado, em uma noite quente no Nordeste, achando que o maior perigo era uma tapioca passada do ponto. Eis que surge o potó, um bichinho aparentemente inofensivo, pequenininho, que se esconde sob a luz da lua, mas carrega o inferno em forma líquida. Pois eu, curioso como um turista em fila de tapioca, decidi esmagá-lo na pele. Resultado? Descobri que o potó é o único ser vivo capaz de transformar seu braço em uma alegoria do carnaval de Salvador, com direito a bolhas, cores e queimaduras dignas de efeitos especiais de filme.


Essa experiência me fez pensar sobre como o Brasil é diverso e, ao mesmo tempo, incompreendido. Tem gente por aí que acha que o Brasil é só o que aparece na timeline do Instagram. Sabe aquele sujeito que acredita que a política nacional cabe em meia dúzia de hashtags? Ou aquele que acha que todo mundo no país vibrou com os trios elétricos pró-Bolsonaro na Paulista, como se fosse um carnaval patriótico? Pois é, essas pessoas precisam de um potó na vida para aprender que as coisas não são tão simples.


O potó, meu amigo, é a metáfora perfeita para o Brasil. Pequeno, subestimado, mas com uma capacidade ímpar de te deixar marcado. Você só entende quando chega perto. Assim como o Brasil não é só feijoada e samba, o potó não é só um besouro bonitinho. É preciso viajar, comer, conversar, observar. Só assim você descobre que no Acre também tem tacacá, que o sertão tem poesia até no silêncio e que o Brasil é um mosaico de potós: cada estado tem o seu jeito de te surpreender, nem sempre de forma agradável.


E sabe o que mais me chamou a atenção no potó? Ele não se importa com a sua ideologia. Bolsonarista, lulista, vegano ou carnívoro, ele vai te queimar do mesmo jeito. Um símbolo perfeito de que a natureza não liga para bolhas – nem as políticas, nem as das redes sociais. Enquanto alguns acreditam que os seguidores do Twitter são um termômetro nacional, o potó está lá, calado, esperando para te ensinar que as maiores verdades da vida surgem quando você sai do ar-condicionado.


Este ano, além de conhecer o potó, conheci também o Brasil. Não aquele das postagens cuidadosamente filtradas ou dos discursos inflamados. Conheci o Brasil que se revela em um prato de carne de sol, em uma conversa fiada na feira e até em um bichinho venenoso. Descobri que nossa maior riqueza está nas diferenças – e nos pequenos sustos que elas nos causam.


No fim das contas, acho que o potó me fez um favor. Ele me ensinou que o Brasil é tão diverso quanto imprevisível. Mas, da próxima vez, espero que essa lição venha em forma de cuscuz e não de queimadura. Afinal, aprender é bom, mas não precisa doer tanto.


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