🌲 Aos 54, um brinde com Thoreau
Entre o lago Walden e o barulho da churrasqueira, aprendi que viver simples pode ser o maior luxo.
Ontem completei cinquenta e quatro anos. E, cá entre nós, já é tempo suficiente para ouvir muita gente ditando o que é essencial: o carro novo, a geladeira com Wi-Fi, a dieta da moda, a notificação que apita sem parar. Pois bem: Thoreau, aquele maluco que se enfiou numa cabana no meio da mata, me sussurra que o essencial é outra coisa.
Quando li Walden, parecia um exagero. O sujeito foi plantar batatas para descobrir a vida. Mas hoje, com cinquenta e quatro nas costas, percebo que o homem só estava adiantado uns cento e setenta anos. Quem não sonha com um lago silencioso, uma mesa simples e o direito de dizer não ao corre-corre urbano?
A matemática de Thoreau é clara: menos é mais — e mais cedo ou mais tarde o “menos” é tudo o que sobra. Um bom vinho, um livro repetido na estante, um prato de comida que chega quente e de quem se ama. Isso basta. Isso é luxo.
Se fosse seguir à risca o manual de Walden, eu comemoraria com uma piadina toscana, um prosecco e o silêncio do vento. Mas como a vida insiste em ser brasileira, aceito o churrasco ruidoso também — desde que me deixem escapar por uns minutos para olhar as estrelas.
Aos cinquenta e quatro, percebo que aniversário não é contagem regressiva, mas convite: ainda dá tempo de viver deliberadamente. Se a vida é um lago, quero continuar mergulhando, rindo, mesmo que saia encharcado. Afinal, o que seria da festa sem o risco de molhar as roupas?
✨ Nello Morlotti
Comentários
Postar um comentário