O poder da almôndega
Minha mãe, siciliana de temperamento vulcânico, tinha uma teoria simples: “Una bella porpeta cura briga di uomini.”
Era como se a almôndega fosse o G7 da cozinha — convocava todos para a mesa, esfriava os ânimos e ainda deixava um gosto de paz no céu da boca.
Pois bem, nesses dias a democracia brasileira andou servindo suas próprias almôndegas. A extrema-direita, que vivia de histeria e se achava dona das ruas, tomou um caldo de realidade: a bandeira verde e amarela voltou a ser tempero do povo, nas manifestações pró-democracia. O prato principal foi a derrota do prato feito chamado PEC da Blindagem, jogada na lixeira do plenário como carne vencida. E o tal texto da anistia, ah, esse anda sendo mexido e remexido como molho que ainda não pegou ponto — cada mexida muda o sabor.
E aí, do outro lado do mundo, me aparece Joesley Batista, o homem que acredita que até o Tio Sam pode ser conquistado com uma boa conversa… e alguns bifes. Dizem que conseguiu amolecer Donald Trump falando de carne, tarifas e consumidores americanos que não querem pagar 50% a mais no churrasco. Uma porpeta diplomática servida no prato dourado da Casa Branca. E vejam só: funcionou. Trump, que vivia de farpas contra Lula, subitamente fez um discurso cheio de salamaleques na ONU. Talvez tenha sido a primeira vez que um almocinho com almôndegas mudou a geopolítica.
A política, no fundo, é isso: um caldeirão de brigas, onde a colher de pau precisa de mão firme para não deixar empelotar. Hoje se fala em PEC, em anistia, em tarifas, em lobby — mas amanhã alguém coloca a porpeta na mesa e tudo se reacomoda. Não é poesia, é cozinha.
Se minha mãe ainda estivesse aqui, diria apenas: “Figlio, lembra que não há impasse que resista a um prato bem servido.”
E eu, olhando para Brasília, Washington e até para o quintal lá de casa, tenho que dar razão a ela.
Nello Morlotti
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