O Maranhão e a Ponte para o Futuro
Há poucos dias, a ponte Juscelino Kubitschek desabou sobre o rio Tocantins, no estreito que liga Maranhão e Tocantins. A tragédia deixou mortos, feridos e um rastro simbólico: o colapso não foi apenas de concreto e ferro, mas de um estado inteiro que insiste em travar diante do futuro. A ponte que caiu é, de certa forma, a metáfora perfeita de um Maranhão que ainda tenta encontrar seu caminho para além da mendicância política e do assistencialismo paralisante.
O Maranhão carrega a marca histórica de ser um dos estados com piores índices de desenvolvimento do Brasil. Exportador de mão de obra para estados vizinhos, o Maranhão parece aceitar com resignação o título de “terra das possibilidades adiadas”. Mas talvez o que mais define o estado seja sua relação fluida com as leis. No Maranhão, a transgressão não é exceção: é prática.
Aqui, as cidades ignoram o Plano Diretor, aquele documento que poderia atualizar a planta imobiliária e elevar o PIB local com uma simples canetada. O trânsito, então, é uma aula prática de caos. Em muitas cidades, o capacete, obrigatório por lei, só é usado por quem planeja assaltar alguém. De resto, ninguém usa. O transporte público? Não existe. E tudo bem. Afinal, o Maranhão, terra de cultura rica, aprendeu a se acomodar com a ideia de que evoluir pode ser opcional.
Até a vigilância sanitária faz vista grossa. Carne boa, para o maranhense, é a carne fresca, do animal abatido no dia, ignorando a refrigeração ou qualquer inspeção sanitária. Enquanto isso, as cidades abrem mão de receitas básicas, reforçando a dependência de programas assistenciais que, embora necessários em emergências, tornam-se permanentes no discurso político.
Mas há um outro Maranhão, um que desperta silenciosamente. Nas terras férteis de Balsas, ao sul do estado, e agora no leste, em Caxias, o agronegócio emerge como um gigante que insiste em se firmar. A mineração, a logística e as riquezas naturais do estado — que vão das reservas minerais ao turismo cultural — são potenciais motores de desenvolvimento. Mas para isso, é preciso mais do que terras férteis. É preciso cérebros férteis.
O maior desafio do Maranhão não está em suas estradas ou pontes: está na cabeça de seus políticos. Pensar o estado para além da urgência assistencialista e projetá-lo como uma potência no cenário nacional é o primeiro passo. Isso exige abandonar a visão de curto prazo e abraçar reformas que impactem diretamente a economia local, como o cumprimento do Plano Diretor das cidades e a modernização de práticas rudimentares.
A verdade é que o Maranhão não precisa reinventar a roda. Precisa apenas decidir se quer usá-la para avançar. Afinal, em um Brasil diverso, o estado já se destaca não apenas pela cultura, mas pelo potencial de se transformar. Porém, o futuro não se alcança com pontes quebradas. É hora de erguer uma nova — uma que conecte o Maranhão à modernidade, à responsabilidade fiscal e, finalmente, ao desenvolvimento que sempre lhe foi prometido, mas que, por razões várias, nunca chegou.
E quem sabe, nesse novo Maranhão, o capacete será usado por todos, as carnes serão inspecionadas e as pontes, finalmente, não cairão.
Nello Morlotti
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