A Artrite das Nações e a Metafísica do Frio
Sentado à mesa, Volodymyr Zelensky fitava sua sopa borsch esfriando enquanto ponderava: e se a vida fosse uma partida de xadrez em que o tabuleiro congelou? Era janeiro, aquele mês que parece queimar neurônios e congelar esperanças. Na Ucrânia, 64% da população estava disposta a sacrificar o xeque-mate em troca de um empate honroso, desde que isso viesse com um ingresso na OTAN e um assento na União Europeia. E quem poderia culpá-los? Após quase três anos de guerra, até os mais otimistas—aqueles 88% que, em 2022, vislumbravam um futuro brilhante—haviam se reduzido a 57% de almas cansadas, mas ainda esperançosas.
Esse número parece coisa de loteria. É como se o universo estivesse dizendo: “Você tem 64% de chance de um acordo e 57% de sobreviver emocionalmente.” O resto? Bom, o resto é o espaço cinzento onde os sonhos evaporam, como o vapor da sopa de Zelensky. E nesse jogo de estatísticas, Donald Trump, com sua cabeleira peculiar e sua retórica caótica, entra no tabuleiro como um cavalo que salta em L, mudando regras que ninguém mais entende.
A verdade é que guerras e sopas têm uma coisa em comum: ambas esfriam. Os ucranianos, 73% dispostos a lutar até o último homem em fevereiro de 2024, agora eram apenas 57%. Não por falta de coragem, mas por excesso de humanidade. Perder filhos, irmãos, maridos e amigos tem o péssimo hábito de tornar até o mais valente um apreciador do silêncio.
Enquanto a Ucrânia pensava em concessões, o borsch lembrava a filosofia do cozinheiro: “O sal é importante, mas o caldo quente é a vida.” Talvez a guerra seja como uma panela que nunca apaga o fogo; cada novo ingrediente—territórios, orgulho nacional, alianças globais—faz a água ferver mais rápido. Mas, ao contrário de uma boa sopa, ninguém sai satisfeito no final.
E enquanto isso, a Europa assiste de longe, segurando o vinho. A OTAN promete garantias de segurança, mas no fundo parece aquele amigo que diz “qualquer coisa, me liga”, mas nunca atende o telefone. Mesmo assim, a esperança persiste. Afinal, se 64% dos ucranianos podem negociar paz e 57% ainda acreditam num futuro, talvez a humanidade ainda tenha alguma salvação. Ou pelo menos, alguma receita para começar de novo.
E assim, Zelensky levantou-se, abandonando a sopa fria. Lá fora, a neve caía, implacável como o destino. No fundo, ele sabia: vencer uma guerra às vezes é aceitar que o tabuleiro precisa descongelar antes de qualquer xeque-mate. Talvez, só talvez, a próxima jogada fosse deles. E, quem sabe, dessa vez, as estatísticas jogariam a favor.
Nello Morlotti
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