A Curitiba de Trump e o prefeito que queria ser Elon Musk !

A Curitiba de Trump e o Prefeito que Queria ser Elon Musk


Sorocaba, terra outrora famosa por sua coxinha de frango com catupiry e por seus domingos lentos, virou o cenário de uma tragicomédia. Um prefeito, fã declarado de Trump, decidiu se inspirar no “Projeto 2025”. Ele declarou que o município precisava de “menos direitos humanos e mais robôs”, e anunciou um ambicioso plano para transformar Sorocaba na “cidade mais autossuficiente do Brasil”, com ideias que iam desde colocar chips nas árvores do parque municipal até “privatizar o vento”. Em tempos normais, isso seria só risível. Mas, como descobrimos na história recente, o absurdo sempre encontra seguidores.


Curitiba, cidade que já se orgulhava de suas iniciativas urbanísticas e de seus ônibus biarticulados, resolveu entrar na onda. Boa parte dos vereadores recém-eleitos e a prefeitura começaram a flertar com um trumpismo adaptado aos pinheirais. A capital que já foi exemplo de inovação e sustentabilidade parecia agora um reality show onde ideias simplórias encontravam eco nas redes sociais, entre vídeos de gatos e anúncios de pastilhas milagrosas para dor nas costas.


O plano? Simples. Criar um “Grande Jardim Botânico do Capitalismo”, onde cada canteiro seria patrocinado por uma multinacional. “O povo quer resultados!”, gritava um vereador entusiasmado enquanto distribuía panfletos com o rosto de Trump ao lado do bondinho da Rua XV. A ideia era clara: tornar Curitiba uma cidade “business friendly”, custe o que custar. Inclusive o bom senso.


O que o prefeito de Sorocaba imaginava


De volta à Sorocaba, o prefeito instalou placas por toda a cidade com o slogan: “Fazemos o que a esquerda não quer!”. Ninguém sabia exatamente o que isso significava, mas as ruas começaram a ganhar nomes como “Avenida do Livre Mercado” e “Praça da Meritocracia”. Em uma tentativa de inovar, ele lançou a proposta de substituir os semáforos por “inteligência artificial” que funcionava através de… um aplicativo pago. A ideia era boa, exceto para quem não tinha celular, o que incluía 30% da população.


Enquanto isso, Curitiba avançava no projeto mais controverso: a privatização do ar puro. Um grupo de consultores “inspirados por Musk” convenceu a prefeitura de que o oxigênio da cidade era um ativo estratégico. Assim, começaram a instalar cabines de “oxigênio premium” em praças públicas. A população, claro, protestou. Mas o prefeito foi à TV e, em uma entrevista bizarra, declarou: “Se as pessoas não conseguem pagar pelo ar, talvez estejam respirando acima de suas possibilidades.”


O que realmente precisamos


No fundo, os projetos de ambos os gestores – tão obcecados por Trump, Musk e slogans vazios – ignoravam o essencial. Não precisamos de um “capitalismo espiritualizado” que mistura coach com religião e vende promessas vazias. Não precisamos de um prefeito que acha que TikTok é política pública. Precisamos, isso sim, de árvores que façam sombra, transporte público eficiente e, veja só, um ar puro que não custe o equivalente a um jantar no Batel.


Talvez a solução para Curitiba e Sorocaba não esteja no “Projeto 2025”, mas em algo mais simples: parar de copiar receitas fracassadas e lembrar que cidades são para as pessoas. Não para slogans, apps inúteis ou prefeitos com delírios de grandeza.


Sorocaba poderia voltar a ser a terra da coxinha. Curitiba poderia retomar sua essência de inovação genuína, não de modismos importados. Mas enquanto isso não acontece, seguimos rindo, porque, afinal, na comédia nacional, é melhor rir do que chorar. E na “pegada do potó”, rir também é resistir.


Por Nello Morlotti.


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