Nikolas Presidente?

A Incrível Jornada de Nikito ao Planalto: Um Caso para Trump, Evola e Von Mises


Acordei, como de costume, com o alarme da cafeteira. Mas, em vez do aroma de café, fui saudado pela voz de Nikolas, agora presidente da República, em rede nacional. “Bom dia, cidadãos de bem!”, disse ele, com aquele tom fervoroso que mistura pregador de igreja com narrador de rodeio. Não sabia se era sonho, pesadelo ou apenas o Brasil sendo Brasil. Respirei fundo e me sentei no sofá, preparado para o espetáculo que viria a seguir.


Os Primeiros Decretos Presidenciais


Logo na primeira semana, Nikito, como carinhosamente o chamava sua base fiel (e numerosa), aboliu aulas de filosofia e sociologia nas escolas. “Precisamos de jovens prontos para o mercado, não para discutir se é o ser ou o não-ser!”, justificou. No mesmo dia, anunciou a criação do “Dia Nacional do Patriota Conservador”, feriado dedicado a distribuir perucas e bandeiras em praça pública.


A pauta econômica foi simples: inspirada em Von Mises, liberou tudo – das regras ambientais à venda de quentinhas no Congresso. Para a segurança pública, adotou um plano chamado “Fuzis para Todos”, porque, nas palavras do presidente, “uma sociedade armada é uma sociedade educada”. Se havia relação entre as duas coisas? Ele não se deu ao trabalho de explicar.


Trump, Evola e o Café da Manhã


Enquanto tomava meu suco de laranja (natural, porque industrializados agora tinham imposto de 80% – estratégia de “incentivo à pureza”), vi que Nikito estava reunido com Donald Trump, via teleconferência. Trump, agora em seu segundo mandato, não parecia muito interessado. Estava mais preocupado em anexar a Groenlândia. Nikolas, por outro lado, anotava tudo como um aluno aplicado, inclusive a sugestão de renomear Brasília para “República Trumpista do Sul”.


Nos intervalos entre decretos e lives nas redes sociais, Nikolas citava Julius Evola, mas nunca ficava claro se ele havia realmente lido algo além da contracapa. No mesmo discurso em que evocava a “tradição espiritual do Ocidente”, também exaltava o liberalismo de Von Mises, ignorando completamente que um pensador defendia a supremacia da tradição e o outro a supremacia do mercado. Contradição? Talvez. Mas, para Nikolas, parecia apenas um detalhe técnico.


O Grande Debate do Século


Certa tarde, um repórter ousou perguntar sobre a contradição entre defender a economia liberal de Von Mises e a visão tradicionalista de Evola. Nikolas respondeu com uma frase que entraria para os anais do surrealismo político: “O importante é que ambos queriam o bem da sociedade. Um falava do espírito e o outro do bolso. Juntos, completam o cidadão!”


O auditório ficou em silêncio. Ninguém sabia se ele estava sendo sério ou se acabava de criar um novo ramo do pensamento humano: o “espiritualismo capitalista”. Mais tarde, em suas redes sociais, ele acusou o repórter de ser comunista.


O Apocalipse do Sistema Simples


Com o passar dos meses, o país começou a sentir os efeitos das políticas de Nikolas. A liberdade econômica ilimitada gerou um caos nunca antes visto. Sem regulamentação, empresas vendiam pão de forma com instruções de uso e alerta de “possível presença de trigo”. Enquanto isso, a defesa do “trabalho moral e ético” virou uma série de palestras vazias sobre meritocracia em um país com 15% de desemprego.


Nikolas insistia que a solução estava nas famílias tradicionais e na venda de livros de autoajuda. Sempre citava Trump, Evola e Von Mises, mas nunca conseguia responder a uma pergunta básica: por que o sistema não funcionava como ele prometeu?


A Contradição Final


Certo dia, um estudante universitário – dos poucos que restavam – fez a pergunta que ninguém havia ousado: “Presidente, se o senhor acredita que o mercado deve ser totalmente livre, como pode defender o controle estatal da moral e dos costumes? E se a tradição é tão importante, por que ignora a destruição ambiental causada pela sua política?”


Nikolas ficou em silêncio por um momento. Talvez estivesse ponderando, ou talvez pensando em qual passagem de Evola ou Von Mises poderia recitar para sair do impasse. Em vez disso, sorriu e respondeu: “Eu acredito na liberdade… até onde ela não atrapalha a ordem. E a ordem… bem, é o que eu digo que é!”


E assim, Nikolas revelou a grande verdade de sua administração: não era sobre coerência ou política, mas sobre o espetáculo. E no espetáculo, todos aplaudimos, enquanto o caos nos engolia.


Moral da História


Se um dia acordarmos com Nikolas na presidência, Trump como mentor e Julius Evola e Von Mises como guias espirituais, talvez seja hora de nos perguntarmos: até onde podemos levar a contradição antes que ela nos consuma? Afinal, governar é mais do que perucas, memes e slogans – exige inteligência, coragem e a capacidade de enfrentar o complexo. Qualidades que, pelo visto, não estavam no pacote.


Nello Morlotti


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