Trevas e luz: Uma segunda Feira no Brasil !

Trevas e Luz: Uma Segunda-Feira no Brasil


É uma manhã de segunda-feira, e o Brasil acorda para um duelo épico: de um lado, a treva cultural com Gusttavo Lima, empunhando o microfone como um cetro presidencial. Do outro, a luz inextinguível de Fernanda Torres, segurando um Globo de Ouro e iluminando a escuridão com o brilho de sua arte.


Na ala sombria, temos Gusttavo Lima, um produto do sertanejo universitário que, por algum motivo insondável, acredita que “Que Saudade da Minha Ex” é uma plataforma de governo. A sofrência musical, aquela trilha sonora de boteco onde as garrafas de cerveja choram mais que os clientes, é o pano de fundo perfeito para uma candidatura que promete “fazer a roda girar”. Só não especifica se a roda é de um carro alegórico ou de um carrinho de mão desgovernado.


A música de Gusttavo é como uma receita mal executada: três acordes sem tempero, letras que reciclam rimas de “coração” com “solidão”, e uma melodia que só melhora após a quarta dose de qualquer coisa etílica. É como se o Brasil dissesse: “Estamos tristes, mas não sabemos por quê”, enquanto um teclado eletrônico chora ao fundo.


Do lado da luz, Fernanda Torres brilha com “Ainda Estou Aqui”, um filme que desconstrói o bolsonarismo sem dizer seu nome. A atuação de Fernanda é um tapa elegante em qualquer tipo de ignorância, provando que a cultura brasileira ainda respira, mesmo em tempos de sufocamento criativo. Ela não canta “sofrência”; ela interpreta a resistência.


Enquanto Gusttavo promete “unir a população” em um karaokê de má qualidade, Fernanda une críticos e plateias ao redor do mundo. Sua vitória no Globo de Ouro é mais do que um prêmio; é um lembrete de que a arte, quando verdadeira, transcende idiomas, muros e ideologias. É a diferença entre gritar no escuro e acender uma vela.


Mas a ironia é irresistível: Gusttavo Lima, com sua pretensão política, representa a caricatura de uma sociedade que confunde popularidade com competência. Fernanda Torres, com sua glória internacional, é o reflexo de uma cultura que poderia ser, mas nem sempre é valorizada.


Nesta segunda-feira, o Brasil é um espelho trincado. De um lado, um cantor que transforma sofrimento em mercadoria. Do outro, uma atriz que transforma dor em arte. De um lado, o barulho vazio. Do outro, o silêncio cheio de significado.


E assim seguimos, entre trevas e luz, entre a promessa do raso e a força do profundo. Gusttavo canta para um país que chora. Fernanda, para um mundo que pensa. E no meio disso tudo, talvez, reste a nós a escolha mais importante: quem queremos ser?


Nello Morlotti


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