Vereadores dos Quartéis e os ETs:
É curioso como começamos 2025 revisitando velhas utopias, mas com um toque de surrealismo digno de uma obra de David Lynch. Em Foz do Iguaçu, enquanto o General Joaquim Silva e Luna assumia a prefeitura com a sobriedade de um filme de Coppola, cinco dos vereadores mais votados da cidade – todos com passagens pelas redes sociais exaltando “a pátria e a família” – organizaram vigílias noturnas nos quartéis. Eles diziam estar prontos para acolher os “visitantes cósmicos”, que, supostamente, viriam nos salvar do “marxismo intergaláctico”. Em solidariedade, iluminaram os prédios militares com luzes verdes e amarelas, porque, afinal, nada diz “bem-vindo, ETs” como um festival de cores patrióticas.
E assim, enquanto em Brasília discutimos chips quânticos capazes de resolver problemas em minutos que levariam septilhões de anos, aqui estamos: em pleno retrocesso civilizacional, trocando progresso por paranoias. Porque, claro, por que investir em transporte público ou saneamento básico se podemos esperar que seres de Alfa Centauri resolvam tudo com lasers e boas intenções?
Os bastidores desse novo mandato prometem, no mínimo, uma boa comédia de erros. Em São Paulo, a vereadora Zoe Martínez encerrou seu juramento com um sonoro “Viva Bolsonaro!” – o equivalente político de um final de novela mexicana: dramático, polarizador e, no fundo, um tanto quanto previsível. Já em Cornélio Procópio, a disputa pela presidência da Câmara envolveu saídas do plenário, acusações de autoritarismo e uma dramaturgia que Pasolini adoraria filmar. Quem precisa de debates legislativos quando se tem um show de egos?
No entanto, a ironia mais pungente é perceber como muitas dessas figuras da extrema direita foram eleitas com promessas de “defender a liberdade” e “combater o retrocesso”. E o que temos? Propostas inconstitucionais para proibir “ideologia de gênero”, discursos inflamados sobre marxismo cultural e, em alguns casos, vereadores que não entendem nem o que compete a uma Câmara Municipal. O resultado? Um Brasil cada vez mais dividido, atolado em debates ideológicos que ignoram as reais necessidades da população.
Enquanto isso, o resto do mundo avança. A China testa redes de energia limpa em escala planetária, a Europa discute a ética da inteligência artificial, e aqui, bem… aqui iluminamos quartéis para receber ETs. E, convenhamos, se os alienígenas realmente chegarem, provavelmente darão meia-volta, desconcertados com o estado de nossas prioridades. Eles, afinal, devem ter coisas mais importantes para fazer do que consertar nosso caos institucional.
Para quem gosta de cinema, talvez seja a hora de revisitar “O Dia em que a Terra Parou”. No Brasil de hoje, no entanto, o título seria algo como “O Dia em que a Câmara Travou: Um País em Stand-By”.
E, claro, ficamos com a dúvida: será que os ETs aceitam um cafezinho quando chegarem? Afinal, se tem algo que sabemos fazer bem, é acolher com simpatia – mesmo quando somos um circo completo.
Nello Morlotti
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