Wasek e o Pierogi !

*Wasek e o Pierogi – Memórias Polonesas na Terra do Juventus*


De tempos em tempos, as memórias da infância chegam como o cheiro de pierogi recém-saído da panela, um aroma que evoca histórias de um passado cheio de personagens, sabores e campos de futebol. Entre essas lembranças, está Wasek, o polonês que meu pai descrevia com tanta empolgação que parecia um personagem mítico. “Um homem bem branco, quase albino, forte, de pernas curtas e grossas, mas com um chute que faria o Éder da Seleção parecer aprendiz!” dizia ele. Se os chutes de Wasek fossem canhões, o campo do Poty da 29 de Março seria seu campo de batalha.


Wasek não era só um jogador; ele era uma lenda. Primeiro no Poty, depois no Juventus, fez a torcida sonhar com seus tiros certeiros e seus dribles firmes. Diziam que o barulho de seu chute ecoava até a Galicia, onde o Sociedade União Juventus – o clube dos polacos – era ponto de encontro para famílias e amigos. Passávamos horas por lá, entre Oleksi, Ozenik e outros sobrenomes poloneses que sempre soaram como poemas indecifráveis na minha infância.


Naqueles tempos, Curitiba parecia carregar uma alma polonesa. Quando o Papa João Paulo II visitou a cidade em 1980, Varsóvia não poderia estar mais próxima. Por alguns dias, tudo parecia polonês. Lembro da inauguração da capela de Nossa Senhora de Częstochowa – nome que até hoje pronuncio com orgulho e precisão, como se fosse uma medalha de honra ao mérito. Naquela época, eu não sabia o significado exato, mas reconhecia no brilho dos olhos dos polacos um orgulho ancestral.


E, claro, o grande tesouro polonês da minha memória está na cozinha. Foi na casa da tia Ladair, madrinha da minha irmã, que experimentei pela primeira vez o pierogi. Aquela massa macia, recheada com batatas, cebolas e um toque de queijo, transformou minha visão de mundo. Pierogi não era só comida; era uma janela para um universo de sabor e aconchego. Hoje, mesmo depois de anos, ele continua no topo da minha lista gastronômica – o prato que sempre evoca infância, família e simplicidade.


A Polônia nunca foi só um país distante para mim; foi sempre uma parte do meu cotidiano, seja nos contos sobre Wasek, nas tardes no clube União Juventus, ou no aroma do pierogi. Um lugar adorável, de fato, não só por sua geografia, mas por como conseguiu marcar uma parte da minha alma, mesmo sem que eu precisasse sair da minha cidade. Afinal, entre a Galicia e o Champagnat, havia um pouco de Varsóvia – e isso, nem o tempo consegue apagar.


Nello Morlotti

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