A Vacina Salvou Sua Vida !

*O Dia em Que a Ciência Perdeu a Paciência*


Era uma vez um grupo de cidadãos que acreditava piamente que a Terra era redonda, que a gravidade puxava para baixo e que o oxigênio era, de fato, necessário à vida. Mas, como toda boa história de suspense, havia aqueles que insistiam em questionar o inquestionável.


Foi assim que, em pleno 2025, na Assembleia Legislativa do Paraná, um evento peculiar tomou forma. O título? “Audiência Pública sobre a Não Obrigatoriedade da Vacina de COVID-19”. A essa altura, já poderíamos ter inventado o teletransporte, mas estávamos ocupados debatendo se vacinas salvam vidas — um conceito que Pasteur, Jenner e qualquer mãe que já levou um filho ao pediatra entenderiam de pronto.


O auditório estava cheio. Algumas pessoas pareciam saídas de um filme de época, segurando cartazes como se tivessem voltado de uma feira medieval onde se discutia se a Terra girava ao redor do Sol. De um lado, médicos, cientistas e estudiosos, com gráficos, estatísticas e uma paciência digna de monges tibetanos. Do outro, um grupo de entusiastas do “meu corpo, minhas regras”, sem perceber que, quando falamos de doenças infecciosas, “meu corpo” pode virar “nossa UTI lotada” rapidinho.


O deputado que organizou o evento, em sua retórica inflamável como um frasco de álcool-gel perto de um isqueiro, tentava argumentar que a imunidade de rebanho se conquistava na base do “deixa pegar”. Era como sugerir que o melhor jeito de aprender a nadar era sendo jogado no meio do oceano durante uma tempestade. “Sobrevivam os mais fortes!” – poderiam ter gritado, se Darwin não tivesse passado a vida inteira provando que o segredo da sobrevivência é, na verdade, a adaptação. E vacinar-se é justamente isso.


No fundo, a ciência assistia ao debate como quem vê um gato tentando abrir uma lata de sardinha com as patas. O que fazer? Explicar novamente que o método científico não é baseado em achismos? Fazer uma tatuagem na testa com os dizeres “as vacinas salvaram mais vidas do que qualquer outra invenção humana”? Ou simplesmente respirar fundo e lembrar que até mesmo Galileu teve que lidar com sua parcela de cabeças-duras?


A grande ironia é que todos ali estavam vivos, saudáveis e capazes de se reunir graças a algo muito simples: uma picadinha no braço. Um ato de civilização. A humanidade já enfrentou doenças como varíola, poliomielite e sarampo — e venceu. Não porque esperou um “milagre natural”, mas porque apostou na pesquisa, na ciência e no compromisso coletivo.


No final, o evento terminou como começou: com algumas pessoas teimando em duvidar da realidade, enquanto a realidade continuava sendo real. Mas, como disse Tocqueville lá no século XIX, o direito individual nasce do dever coletivo. Então, enquanto houver vacinas, haverá esperança. E enquanto houver gente disposta a estudar em vez de bradar teorias sem fundamento, haverá progresso.


E, se precisar de reforço, a ciência estará ali, de jaleco e seringa na mão, esperando pacientemente para salvar até mesmo aqueles que insistem em negá-la.


Nello Morlotti, Vacinado com Orgulho !

Comentários