O “Tomate de Schrödinger” !

 *O Semipresidencialismo das Quitandas e o Boicote à Marmita*


Por Nello Morlotti


Os jornais de hoje parecem saídos de um roteiro dos Irmãos Coen: temos um presidente que incentiva o boicote aos próprios preços, uma oposição que acha que boicotar boicote é um programa de governo e um Congresso que quer trocar o sistema presidencialista por algo que soa como “semipresidencialismo de padaria”.


Imagino a cena: você chega na quitanda, olha para o tomate, que agora custa o mesmo que um celular parcelado, e lembra do conselho presidencial: “não compra!”. A estratégia econômica virou um jogo de “quem pisca primeiro”, com o feirante de um lado e o freguês do outro, esperando ver quem desiste primeiro — o consumidor de passar fome ou o comerciante de perder dinheiro. É a teoria econômica do “tomate de Schrödinger”: ele está ao mesmo tempo vendido e estragado.


Enquanto isso, no planalto, a turma quer implantar um tal de semipresidencialismo. Na prática, parece ser um plano para criar um novo cargo político de gente que manda, mas não manda tanto assim. O presidente ficaria ali, cortando fitas e reclamando de Elon Musk, enquanto o primeiro-ministro pegaria as buchas. Funciona na França? Funciona. Mas lá eles têm queijo brie no café da manhã e ministros que caem por causa de escândalos de corrupção, não porque fizeram stories sem camisa no barco.


No Judiciário, o Supremo Tribunal Federal decidiu lançar sua própria linha de moda. Gravatas e lenços inspirados na arquitetura da corte. Agora, quando um réu for julgado, poderá se perguntar: “isso é uma condenação ou só um evento de gala do Oscar?” Já vejo a cena: Gilmar Mendes entrando de lenço azul e dizendo para um ministro adversário: “com essa estampa aí, você não decide nem sobre recurso de multa de trânsito.”


E para fechar a semana, o governo decidiu investigar ONGs que receberam milhões para distribuir marmitas, mas esqueceram do pequeno detalhe de entregar as marmitas. É uma evolução do golpe da “empresa fantasma”: agora é o golpe da “quentinha fantasma”. O cidadão com fome recebe um recibo e a promessa de um arroz com feijão etéreo. Poderiam ao menos chamar de “quentinha conceitual” e vender a ideia para um bistrô gourmet.


No fim das contas, seguimos um país de extremos: ou boicotamos o supermercado ou aceitamos marmita imaginária. E se alguém perguntar qual o sistema de governo, a resposta é clara: “O que estiver em estoque.”

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