Aleluia 2026 !

O Novo Brasil e a Urna Evangélica


Se há algo que a história já demonstrou, é que a política não tem dogmas permanentes, apenas interesses em mutação. O Brasil de 2026, ao que tudo indica, será decidido menos pelo preço do arroz e mais pelo dízimo da opinião pública. No último pleito, o governo apostou que a redução da pobreza consolidaria sua base eleitoral. Os números do IBGE, de fato, apontam o menor patamar de miséria desde 2012. Mas se a economia dá sinais de recuperação, por que a popularidade presidencial derrete? A resposta não está nos gráficos do Banco Central, mas nos bancos da igreja.


Um estudo recente sugere que o fator evangélico será determinante na sucessão presidencial. Essa parcela crescente da população rejeita o discurso de que o Estado é o grande provedor e abraça a ideia de que a prosperidade vem do esforço – e, claro, da bênção divina. Na prática, isso significa que a retórica do “povo sofrido” perdeu força diante do “povo batalhador”. O pobre que roda Uber, investe no canal “Primo Pobre” e lê a Bíblia não se identifica mais com a velha narrativa da esquerda. Para ele, sucesso é mérito, e meritocracia é mandamento.


Esse deslocamento sociocultural tem consequências profundas. A elite econômica, que sempre viu na moralidade um detalhe supérfluo, agora descobre que costumes e fé movem mais votos do que tabelas de inflação. Na Faria Lima, a constatação soa como um alerta: a esquerda perdeu a sintonia com seu novo eleitorado. O lulismo, que já foi a voz das periferias, agora precisa lidar com um público que rejeita não só seus projetos econômicos, mas também seus símbolos e valores. Enquanto o neopentecostalismo cresce, o petismo encolhe. O resultado? Um governo que, para muitos, parece desatualizado, incapaz de dialogar com a nova realidade do país.


Essa obsolescência não se resume a uma questão de fé. Há também um fator geracional. A esquerda, forjada na lógica de palanques e sindicatos, não aprendeu a se comunicar na era dos cortes rápidos e da descentralização digital. O TikTok converte mais eleitores do que qualquer plenária, e os jovens evangélicos, que antes poderiam ser seduzidos por um discurso social, agora preferem influenciadores que falam a linguagem da prosperidade.


O tabuleiro de 2026, portanto, se desenha com um paradoxo: um governo que melhora indicadores econômicos, mas perde apoio popular. Um eleitorado que enriquece, mas migra para a direita. A esquerda apostou que, ao elevar a renda dos pobres, consolidaria sua hegemonia. Mas esqueceu-se de que o pobre, uma vez de bolso cheio, quer mais. Quer respeito. Quer autonomia. E, ao que tudo indica, quer um governo que pare de tratá-lo como necessitado e passe a enxergá-lo como protagonista.


O Brasil que emergirá das urnas pode ser um país onde o Bolsa Família pesa menos que a Bíblia, e onde o discurso da inclusão social perde espaço para a retórica do esforço pessoal. Se a esquerda não entender isso a tempo, poderá descobrir que sua queda não foi um castigo divino, mas uma escolha democrática.


Nello Morlotti


Comentários