Zema Orelha Vermelha !

 O Novo de Ontem, o Liberalismo de Sempre e o Puxão de Orelha Público


Romeu Zema, governador de Minas Gerais, é um caso curioso da política brasileira. Dizem que um bom líder se impõe pela voz, pela postura, pelo carisma – Zema, coitado, não teve acesso a esse curso. Com seu tom de gerente de loja de eletrodomésticos explicando as vantagens do crediário, ele insiste que Minas é um grande empreendimento e que, se todo mundo trabalhar direitinho, um dia seremos uma filial da Suíça. O problema é que, enquanto ele segue vendendo essa ideia, os mineiros estão mais preocupados em não afundar nas enchentes, não cair em buracos nas estradas e, claro, entender qual foi o grande benefício que Bolsonaro trouxe ao estado além de promessas vagas e uma fila de eleitores arrependidos.


Zema não governa apenas Minas. Ele é, acima de tudo, um devoto do livro sagrado da eficiência, um manual que o Partido Novo carrega consigo como se fosse uma tábua dos dez mandamentos do mercado. O problema é que esse partido, que prometia ser uma revolução na política, acabou sendo uma mistura de coach de LinkedIn com aquele seu tio que acha que o problema do Brasil é o “custo trabalhista”. Na prática, são gestores que acreditam que um país é como uma empresa – e, se desse lucro, já teria sido vendido para um grupo chinês há muito tempo.


Mas a tragédia de Zema não para aí. Se fosse apenas um liberal genérico, daqueles que acreditam que impostos são um crime contra a humanidade, vá lá. Mas ele também insiste em manter uma fidelidade inexplicável a Jair Bolsonaro, como um cachorro que espera o dono voltar da padaria, sem perceber que o dono já mudou de cidade e nem mandou um WhatsApp. Durante anos, Minas Gerais foi solenemente ignorada pelo governo federal. Enquanto isso, Zema, feito um aluno puxa-saco que quer impressionar o professor ausente, seguiu defendendo a cartilha bolsonarista como se dela dependesse sua sobrevivência.


Eis que, ontem, ele aprendeu que a política tem seus momentos de justiça poética. Em evento público, resolveu criticar o PT e dizer que assumiu um estado falido – porque, claro, culpar gestões anteriores é sempre mais fácil do que admitir que sua política de gestão austera se resume a “ver se dá para terceirizar”. Mas Lula, com a calma de um mestre experiente, resolveu fazer perguntas simples, do tipo que desmontam narrativas:


— Governador, me diga: quanto de investimento federal Minas recebeu no governo Bolsonaro?


Zema arregalou os olhos. Procurou nos bolsos, no teleprompter imaginário, tentou lembrar da última reunião do grupo de WhatsApp “Liberais & Patriotas”. Silêncio. A plateia esperava. Ele engoliu seco. A resposta não veio. O tempo parou.


Lula, generoso como um professor que vê um aluno perdido, repetiu a questão. Mas Zema, que já tinha sido jogado na água fria do realismo político, não sabia nadar. Saiu humilhado, como um CEO que chega na reunião sem saber explicar os números do próprio negócio.


O que aprendemos com isso? Que um homem se impõe não só pela voz, mas pelo conteúdo. E que Romeu Zema, com seu partido inovador que cheira a naftalina, seu liberalismo que ignora a realidade e sua devoção a um líder que nunca olhou para ele, talvez tenha aprendido a maior lição de todas: a política não é só sobre repetir frases prontas. É também sobre saber responder perguntas difíceis.


E, principalmente, sobre saber quando parar de pagar pedágio para um líder ausente.

Nello Morlotti 

Comentários