O Conclave e a Urna do Capeta
Em algum grupo de WhatsApp com o nome “Deus, Pátria, Família & Vídeo do Caminhoneiro”, a nova teoria fervilhava: o conclave do Vaticano era, na verdade, uma farsa. Um golpe. Um novo Foro de São Paulo. Ou, pior, um esquema globalista iluminati conduzido por bispos de batina vermelha e chip 5G.
— Vocês sabiam que o Papa é eleito por uma urna secreta, dentro da Capela Sistina? — escreveu Zé do Agro, usando uma foto de perfil com óculos escuros e camisa do Brasil 2018.
— Urna secreta, Zé? Isso aí é a Smartmatic dos padres! — respondeu Gilsão da Reta, que já denunciava fraudes até no bingo da paróquia.
Para eles, aquele negócio de “voto secreto entre cardeais” era claramente uma manobra da velha política e da nova ordem mundial.
— O certo era voto impresso com apuração aberta pelo Telegram, ao vivo com a Dra. Nise e o padre Kelmon — disse uma senhora que acreditava que a fumaça branca era CGI da Globo.
Diante do ritual milenar e simbólico, só viam treta:
— Que história é essa de fumacinha preta e branca? Por que não dizem logo quem ganhou? Cadê o comprovante do voto? Isso é coisa do Alexandre de Moraes do Vaticano, aposto.
E se o novo Papa vier da América Latina, então pronto:
— Sabia! É comunista! Vai querer distribuir hóstia com cotas e pronome neutro!
No fundo, eles só aceitariam o resultado se o eleito fosse um tal de Dom Jair I, defensor da cloroquina litúrgica e da canonização do Olavo.
Oremos.
— Nello Morlotti
Comentários
Postar um comentário