“O som do berimbau na guerra comercial”
Donald Trump, o eterno cowboy de terno largo, voltou a fazer o que sabe melhor: mirar o mundo com o olhar vesgo de quem confunde globo terrestre com roleta de cassino. Numa dessas jogadas, bateu na mesa e gritou: “Tarifa pra todo mundo!” E assim, de uma canetada só, transformou o planeta em um shopping em liquidação… mas com preços mais altos.
A imprensa norte-americana chamou de “dia da libertação”, o que para nós, aqui no Sul do Equador, soou mais como “dia da entrega”. Afinal, enquanto as potências se engalfinham num duelo tarifário, quem fica com a loja aberta, vendendo manga e simpatia, somos nós.
Veja bem: com os Estados Unidos criando muralhas alfandegárias, a Europa retaliando com a elegância de um garçom parisiense mal-humorado, e a China entornando chá de jasmim com uma pitada de vingança, sobra ao Brasil uma chance única. É como se, no meio da briga de gigantes, alguém deixasse cair um trono vazio. E nós, com nosso jeitinho tropical, pudéssemos experimentá-lo – mesmo que só por uns dias.
Ora, se o mundo começa a recusar o ketchup americano, talvez tope provar nosso molho de pequi. Se os chips chineses forem parar no limbo tarifário, quem sabe nossos grãos de soja ganhem mais brilho no prato global. A verdade é que a guerra comercial abriu uma fresta: o erro de Trump é o intervalo da orquestra em que o berimbau pode se fazer ouvir.
Mas, atenção! Oportunidade não é destino. O Brasil precisa mais que sorte – precisa estratégia. Diplomacia com samba no pé, acordos comerciais que não fiquem presos em pastas mofadas, e um pouco de autoestima produtiva. O mundo está olhando para os lados, e talvez – só talvez – esteja nos olhando também.
Enquanto isso, Trump se isola no seu muro de tarifas, certo de que está salvando o mundo ao estilo John Wayne, mas talvez esteja apenas deixando a porta dos fundos entreaberta. E, se formos espertos, podemos entrar sem fazer barulho, com um coado na mão e uma ideia na cabeça.
O mundo não gira, capota. E às vezes, no tropeço dos outros, o Brasil pode aprender a dançar.
Nello Morlotti
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