Entre Stents e Estepes !

Entre Stents e Estepes

É curioso como a vida tem um jeito peculiar de nos obrigar a dar uma pausa — e, no meu caso, essa pausa chegou em forma de angioplastia. Enquanto o mundo lá fora fervilhava de notícias, eu estava me entregando ao som do bip do monitor cardíaco e ao aroma nada convidativo de clorofila hospitalar.


Mas voltei. E, como quem retorna de uma breve viagem ao além, trago comigo não apenas dois stents novinhos em folha, mas também um novo fôlego para encarar o cotidiano. Ou quase isso.


Porque, vejam só, nesses últimos dias em que fiquei ausente, o noticiário parece ter decidido me compensar pela falta de emoção pessoal: acordos sendo desfeitos, prefeitos se embananando em suas próprias palavras e, claro, o eterno duelo de manchetes que faz a gente duvidar de quem de fato está no comando.


Enquanto isso, eu me distraía com as aventuras do meu próprio sistema circulatório — que, devo dizer, já merecia um Oscar por resistência. Nada como ver a vida pulsando em slow motion, sob o olhar clínico de médicos que falam com a calma de quem narra uma partida de xadrez.


Agora, de volta à rotina, sinto que tudo ficou mais saboroso — o café da manhã, o som do noticiário, até o barulho do trânsito. Talvez seja o efeito colateral de quem, por um breve instante, ficou pendurado entre o vai e o fica.


E cá estou, de coração remendado e olhos atentos, para recomeçar — e para escrever, claro, que é a forma que encontrei de respirar fundo sem medo de entupir nada de novo.



Nello Morlotti 


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