Fritando Marina !

Fritura de Marina Silva e o Silêncio Ensurdecedor do Governo

Na manhã de ontem, o Senado Federal ofereceu ao Brasil uma cena emblemática: a ministra Marina Silva, voz histórica do meio ambiente, sendo hostilizada por senadores que pareciam mais interessados em intimidar do que debater. Mas o que mais chamou a atenção não foram as ofensas de Plínio Valério ou as interrupções de Marcos Rogério — foi o silêncio constrangedor do governo. Um silêncio que, para muitos, soa como cumplicidade.


Marina Silva sempre foi uma figura incômoda para qualquer governo. Suas convicções ambientais são inegociáveis, e sua trajetória pessoal dá peso a cada palavra que profere. Desde que voltou ao ministério, Marina tem defendido o que sempre defendeu: a preservação ambiental como eixo de desenvolvimento e não como obstáculo. No entanto, esse discurso nem sempre casa com as prioridades políticas e econômicas de Brasília.


A cena de ontem no Senado — Marina sendo chamada de “mulher que não merece respeito” e “ministra que não se coloca no seu lugar” — escancarou um jogo perigoso. Marina respondeu à altura, reafirmando que não será submissa e exigindo o respeito que seu cargo merece. Mas e o governo? Onde estavam os ministros, os líderes, os porta-vozes do Planalto para defender Marina nesse momento? A ausência de apoio imediato foi ruidosa.


Esse silêncio pode não ser apenas descuido ou falta de timing. Há quem enxergue nele um recado velado: Marina está sozinha. E, se assim for, a fritura de Marina está em curso. Não se faz necessário demitir ministros quando se pode deixá-los sangrar publicamente, enfraquecendo-os até que peçam para sair por conta própria. É um roteiro que a política brasileira já conhece bem.


Para o governo, o custo dessa estratégia é alto. Marina simboliza a credibilidade ambiental do país — a mesma que o Brasil gosta de exibir em conferências internacionais. Deixá-la isolada enquanto se discute a exploração de petróleo na Margem Equatorial ou a pavimentação de rodovias em áreas sensíveis pode mandar ao mundo um recado claro: o meio ambiente segue no discurso, mas a prática está em outra prateleira.


Marina sabe disso. E ontem, ao se levantar e sair da audiência, deixou no ar a pergunta que muitos de nós também fazemos: o que vale mais para este governo — a retórica ou a coerência? Enquanto a resposta não vem, resta observar o silêncio ensurdecedor que parece ecoar mais alto do que qualquer fala.



Nello Morlotti


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