Carla fugiu !

Carla, a Pistoleira de Brasília


Tem coisa que só acontece no Brasil, e mesmo assim, a gente duvida. Carla Zambelli, deputada federal, liberal nos costumes e conservadora nas armas, saiu de cena como num western mal dublado: sacou o passaporte, escondeu a pistola imaginária e partiu em fuga rumo ao pôr do sol — só que pela fronteira da Argentina.


A deputada, que em outros tempos andava pela Paulista como quem desfilava em um Velho Oeste tupiniquim, agora tem seu nome pedido com urgência na Interpol. Sim, Interpol. Aquela mesma que procura terroristas internacionais, mafiosos e, de vez em quando, políticos que confundem a Câmara dos Deputados com um ringue de UFC retórico. Carla entrou na lista.


Alexandre de Moraes, o ministro que virou protagonista de enredos mais emocionantes que muito thriller da Netflix, não hesitou: decretou a prisão preventiva. O motivo? Uma combinação explosiva de hackeamento, fake news e uma vontade incontrolável de desafiar a Constituição como quem desafia o garçom que se recusa a trazer ketchup numa cantina italiana. E tudo isso com ares de missão divina.


Segundo a Procuradoria-Geral da República, Carla fugiu. Segundo ela mesma, foi só “uma viagem breve”. Breve como uma década de prisão, talvez. Ela diz que não volta. O Brasil, dividido como sempre, pergunta se isso é bom ou ruim. E o ministro, impassível, escreve despachos que mais parecem capítulos de “Game of Thrones” versão judiciária.


Mas há algo de literário nisso tudo. Carla Zambelli, outrora musa de um conservadorismo performático, agora é fugitiva com mandato. Uma espécie de Lady Macbeth armada com uma Glock e uma conta no X (ex-Twitter). É como se o roteiro fosse escrito por Nelson Rodrigues numa fase particularmente delirante — ou por um algoritmo enlouquecido depois de ler a Constituição inteira no modo randômico.


O mais curioso? Ela ainda tenta se apoiar na imunidade parlamentar, como quem se esconde atrás de uma cerca de bambu num tiroteio de canhões. “Deputado só pode ser preso em flagrante”, ela grita, talvez do Uruguai. E o STF responde: “E quanto ao bom senso? Também tem foro privilegiado?”


No fim, sobra pra nós, os cronistas da sarjeta institucional, tentar entender o que é real, o que é farsa, e o que é só mais um capítulo do teatro político brasileiro, onde as cortinas nunca se fecham e os protagonistas, invariavelmente, terminam fugindo pela porta dos fundos — ou pela fronteira.


Nello Morlotti


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