Refletindo sobre os mitos que sustentam nossa vida cotidiana
por Nello Morlotti
Recentemente, deparei-me com um livro instigante: The Myths We Live By, de Peter Cave. Em suas páginas, Cave nos convida a desfiar as narrativas que tomamos como certas — as histórias que, sem percebermos, moldam nossas decisões, nossos valores e até mesmo nosso senso de pertencimento. É um exercício filosófico que vai além do que está na superfície: obriga-nos a repensar conceitos que muitas vezes carregamos como dogmas.
Ao discutir a democracia, por exemplo, Cave não apenas nos recorda suas imperfeições, mas nos empurra a questionar a própria raiz de nossas convicções políticas. Será que a democracia é sempre o “melhor dos mundos possíveis”? Ou será que, às vezes, esconde desigualdades, manipulações e desilusões?
Essa provocação, para mim, ecoa muito além das urnas e dos partidos. Ela revela a força dos mitos na vida de cada um de nós: a crença no progresso como destino inevitável, a liberdade de expressão como um direito absoluto, a ideia de que toda desigualdade é, necessariamente, injusta. São narrativas poderosas, mas raramente neutras. Elas são, como Cave nos alerta, produtos de histórias — mitos — que muitas vezes servem a interesses que não enxergamos.
Eis então a provocação que levo comigo após essa leitura: se somos feitos de histórias, por que não questionar as que nos foram contadas? Por que não abrir espaço para reescrevermos nossas próprias mitologias, buscando nelas não verdades absolutas, mas a honestidade de reconhecer que todo mito carrega uma escolha — e, por isso, um compromisso com a realidade que desejamos criar?
Peter Cave, ao longo de The Myths We Live By, não oferece respostas definitivas. E talvez esse seja o maior presente que nos dá: o convite para que aceitemos a dúvida como companheira fiel, para que deixemos de temer a incerteza e passemos a explorá-la. Afinal, viver de mitos pode ser confortável — mas viver de perguntas é o que nos mantém humanos.
Nello Morlotti
🚀📚✨
Comentários
Postar um comentário