Entre Tropa de Elite e o Trapalhão-mor
Ouvi hoje uma conversa rara: Ciro Gomes, Gisele e José Padilha trocando ideias como quem joga xadrez com palavras. A mesa imaginária tinha tudo — economia, riscos à democracia, a leitura crua do país que, de vez em quando, se parece mais com um roteiro de filme do que com um projeto de nação. Padilha, com aquela precisão de cineasta que sabe enquadrar a realidade sem filtro de Instagram, falou de Tropa de Elite, de política, de armadilhas históricas… e, de repente, tirou da cartola um nome que não estava no script: Renato Aragão.
Renato, o Didi Mocó, aquele que cabia tanto na televisão quanto no imaginário popular, foi lembrado como um dos grandes brasileiros. E eu assino embaixo — em caneta tinteiro, se for preciso. É curioso como, no meio de análises sobre PIB, inflação e ameaças institucionais, surge a imagem de um sujeito que carregou o Brasil para a frente sem um único tanque, sem discurso inflamado e sem campanha publicitária milionária. Só com um time de trapalhões, um humor limpo (e, convenhamos, atemporal) e um compromisso quase infantil com a alegria.
O Brasil de hoje, mais do que nunca, precisa lembrar que já teve heróis que vestiam camisa florida e chapéu de palha, que faziam graça até com a própria desgraça e que, de alguma forma, nos ensinaram que rir não é alienação, mas resistência.
Entre o “pede para sair” e o “ô psit”, há um país que insiste em sobreviver. Um país que, se perder o humor, perde também a alma.
Porque, no fundo, talvez a maior lição do Renato Aragão não tenha sido uma piada, mas a constatação silenciosa de que não existe projeto de nação sem projeto de gente feliz.
Nello Morlotti
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